Fundamentos do Futsal
Diria que as habilidades acima pertencem aos jogadores de linha. Uma outra parte, inclusive com algumas das habilidades acima citadas, refere-se ao jogo do goleiro. Este realiza pegadas, defesas, saídas de gol, reposições, lançamentos e ainda o jogo de quadra.
A teoria dessas habilidades ou competências se encontra amiúde nos livros de futsal. De minha parte, descreverei, em linhas gerais, com alguma ou outra contribuição, a mesma teoria.
Sugeri, também, algumas considerações quando do ensino das habilidades. Penso que são coisas que o professor deve saber. Entretanto, não escrevi como se deve ensinar, o método, e tampouco a possibilidade da criança pequena, do adolescente e do adulto de se relacionarem com as diferentes habilidades. Em particular, isto deve ser considerado quando da leitura da teoria que se segue. Boa leitura!
- Domínio
Domínio é a habilidade de recepcionar a bola. O objetivo do professor ao ensina-la é o de levar a criança a recepciona-la com as diversas partes do corpo. Por conta da completude da abordagem do primeiro professor, optarei pelas suas classificações.
Quanto à Trajetória Quanto à Execução (Recepção)
Rasteira Com os pés, faces interna, externa e também com o solado.
Meia-altura Com os pés e a coxa, faces interna e externa.
Parabólica Com os pés, utilizando o dorso e o solado; Com o peito, a coxa e a cabeça.
- Controle
Controlar a bola é diferente de domina-lá. Enquanto está ação trata-se da recepção da bola, aquela se refere a mantê-la no ar, com toques de uma e de outras tantas partes do corpo, sem deixa-la cair ao chão, é o que chamam de embaixadinhas. O objetivo é manter a bola no ar pelo maior tempo possível.
- Condução
A condução é quando se leva a bola pela quadra de jogo. Uma regra básica: a bola deve estar próxima do condutor.
Essa condução pode ser feita em linha reta, daí o nome de retilínea. Também em ziguezague, e, portanto, sinuosamente. Sugiro evitar a condução de bola com o solado do pé, a não ser quando a condução for de costas. De frente, é ineficaz. As outras faces para se conduzir são interna e externa.
- Chute
O chute surge quando do contato do jogador com a bola em direção à meta adversária ou para afastar o perigo de um ataque adversário. O primeiro seria o chute com o objetivo ofensivo. O segundo, com o objetivo defensivo. Logo, chute sempre é a mesma coisa, o que muda é o objetivo.
Alguns fatores interferem na maneira de chutar. A maior parte dos autores diz que, além do equilíbrio e da força, o pé de apoio, que deve estar ao lado ou atrás da bola, o pé de chute, que quanto maior a superfície deste em contato com a bola, maior será a direção do chute e o posicionamento do tronco, que se inclinado para frente, tender-se-á a sair um chute com a trajetória da bola rasteira e, se inclinado para trás, tender-se-á a sair um chute com a trajetória da bola alta, interferem no chute. Entretanto se o jogador estiver com as habilidades básicas constituídas - locomoção, manipulação e estabilidade, não haverá maiores dificuldades para chutar.
Quais seriam as possíveis trajetórias de chute? Rasteira, meia-altura e alta. Como se faz para obter essa trajetória? No primeiro caso, chuta-se em cima da bola, no segundo, no meio e, no terceiro caso, embaixo.
E, já que falamos das trajetórias do chute, quais seriam os tipos, as maneiras de chutar? Com o dorso ou de peito de pé, de bate-pronto ou semi-voleio, de voleio ou sem-pulo, de bico e por cobertura.
Uma rápida explicação sobre cada um deles:
O chute simples: bate-se com o dorso do pé e com a parte interna do pé. Se obedecermos à informação anteriormente descrita, de que a maior superfície de contato do pé de chute na bola interfere na sua direção, logo, será o chute que maior probabilidade de êxito acarretará. Há uma discussão sobre isso, de que não se chuta com a parte interna do pé, que apenas se passa. A meu ver, chuta-se sim. Portanto, o chute simples, pode ser feito com o dorso e com a parte interna do pé.
O chute de bate-pronto ou semi-voleio: chuta-se a bola ao mesmo tempo em que esta toca no chão.
O chute de voleio ou sem pulo: chuta-se a bola ainda no ar.
Ambos, o voleio e o semi-voleio, são chutes refinados e difíceis.
O chute de bico, ao contrário, é o mais fácil. Corre-se até a bola e chuta-se com a ponta do pé. Entretanto, este chute, na maior parte das vezes, por conta da superfície de contato do pé de chute ser pequena, não é muito preciso.
Por último, o chute por cobertura. Chuta-se embaixo da bola a fim de que a mesma ganhe uma trajetória alta.
- Cabeceio
A exemplo do chute, o cabeceio pode ser ofensivo e defensivo. Mas, ao contrário do chute, mas a exemplo do passe, o cabeceio pode ser cooperativo. Ou seja, quem cabeceia o faz para marcar um gol, para defender a sua equipe ou para passar a bola para um companheiro de equipe.
Portanto, quem ensina a cabecear deve prever as três situações, entretanto, mais as de ataque - cabecear contra a meta e cabecear para alguém.
A exemplo do chute e do passe, o cabeceio pode ter diferentes trajetórias, isto é, pode ser em linha reta, para o alto ou em direção ao chão. O local onde se toca na bola determinará as diferentes trajetórias. Cabeceou-se no meio da bola, ela sai em linha reta. Cabeceou-se embaixo da bola, ela vai para o alto. Cabeceou-se em cima, ela desce.
Quem cabeceia pode estar parado ou em movimento. Neste caso, correndo, saltando, se lançando ao chão - aí se diz que, a exemplo do que acontece no voleibol, houve um mergulho (peixinho). Parado ou em movimento, ao cabecear pode-se direcionar a bola para algum lugar - para frente, lateralmente e para trás.
O básico do cabeceio é o seguinte:
a) acompanhar a trajetória da bola;
b) ir ao encontro da bola;
c) tocar a bola com a testa;
d) manter os olhos abertos;
- Passe
O passe só acontece quando há duas pessoas. Passa-se quando um alguém envia a bola para um outro alguém. Em geral passa-se a bola com os pés, mas também pode sair um passe com a cabeça, com o peito, a coxa, o ombro.
Abaixo, segue uma classificação que permeia grande parte dos livros de futsal de autores brasileiros. Tal classificação foi feita pelo Ricardo Lucena. Segundo o professor, o passe é classificado quanto à distância, à trajetória (altura), à execução (parte do corpo), ao espaço de jogo (quadra) e à habilidade.
Distância Curto - até 4 m; Médio - 4 a 10 m; Longo - acima de 10 m;
Trajetória Rasteiro, meia altura, parabólico;
Execução Interna, externa, anterior (bico), solado, dorso;
Espaço de Jogo Lateral, diagonal, paralelo;
Passes de Habilidade Coxa, peito, cabeça, calcanhar, ombro, parabólico.
Quando se quer um passe com a trajetória rasteira, deve-se ensinar a bater em cima da bola; quando se quer alto, embaixo e quando se quer meia-altura, no meio.
- Drible
O drible é feito com posse de bola. Quem dribla, procura, com bola, passar por um adversário. Esse "passar pelo adversário" exigirá, algumas vezes, velocidade, outras apenas mudança de direção, outras, criatividade, ginga e outras ainda, todas estas coisas simultaneamente. Entretanto, uma coisa é certa: o que dificulta a habilidade de marcar é a perda do equilíbrio. Logo, o drible eficaz é aquele que provoca no outro o desequilíbrio.
É possível jogar futsal sem driblar? Penso que sim. Entretanto, em se tratando de futsal, o drible provoca a tão desejada superioridade numérica e, por isso, além de outras coisas, deve ser incentivado.
- Finta
Finta, ao contrário do drible, é realizada sem bola. Ainda que quem finta esteja sem bola, o faz com o objetivo de obtê-la. Devemos entender que fintar tem o objetivo de levar o jogador a enganar o seu adversário para receber a bola. Outros nomes, dependendo da região do país, são sinônimos de finta: desmarcação, balanço, gato, vai e vem, pique falso.
Aspectos relevantes da finta:
a) Quem finta deve aprender a passar da linha do marcador, ou seja, deve fugir do seu campo visual. Essa atitude, além de desequilibrar quem marca, dificultará ao mesmo controlar a bola e quem se desmarca. Se optar pela bola, quem se desmarca pode receber a bola numa condição favorável, nas costas do marcador. Se optar em acompanhar quem finta, que é o correto, este fintará e receberá a bola com alguma vantagem;
b) Os jogadores precisam aparecer para receber a bola. Para tanto, é preciso leva-las a enganar o adversário. Fingir que vai para um lado e receber a bola do outro. Mudar de direção.
- Marcação
Quem marca tem o objetivo de desarmar quem tem a bola, tomando-lhe a mesma ou tirando-a; também objetiva impedir que o adversário receba a bola. Quem ensina a marcar tem o objetivo de fazer que essas coisas sejam possíveis.
Dividirei a explicação da técnica de marcação em dois momentos:
(a) quando o adversário está com bola,
(b) quando ele não tem a bola.
No primeiro caso, ensinam-se três coisas básicas:
a) Que se deve aproximar do adversário sem afobação. Ora, evidentemente que se assim não acontecer, isto é, se quem marcar o fizer atrapalhado, aproximar-se de "uma vez", será facilmente driblado;
b) Uma vez próximo do adversário, marca-se em equilíbrio. Consegue-se isso aproximando o centro de gravidade do chão. Basta flexionar as pernas;
c) Que se deve marcar deslocando-se na ponta dos pés e os olhos voltados para o atacante, mas sem perder de vista a bola. Uma regra básica: quanto mais iniciante for o jogador, mais difícil será observar tantos detalhes;
Penso que quem marca, ainda que tenha o objetivo de roubar ou tirar a bola do adversário, poderá não conseguir faze-lo. Outras funções como, por exemplo, atrapalhar o passe e ainda atrasar o ataque são positivas. Basta, para atrasar o ataque, afastar-se, dar passos para trás. A obrigação de quem marca é fazer todo o possível para não ser driblado e ainda evitar que o adversário chute contra a sua meta.
No segundo caso, com o adversário sem a bola, ensinam-se algumas coisas básicas:
a) Quem marca se posiciona entre o adversário e a sua própria meta;
b) Se o adversário se desloca deve-se acompanha-lo, pois ele é quem faz o gol;
c) Se possível, acompanha-lo bem de perto, tocando-o. O toque, por não ser visual, é um recurso indispensável. Aumenta-se, sobretudo, a vigilância.
Com o tempo, e isso já não é mais básico, ensinam-se outras coisas: marcar o pé de passe e chute, fechando o lado forte de saída e ação do adversário; empurrar o adversário contra a linha lateral da quadra, diminuindo o ângulo de passe e chute.
- Antecipação
Antecipa-se quando se toma à frente do adversário. O professor Michel Saad classifica a antecipação em ofensiva e defensiva. Penso que, quanto aos objetivos, podem ser mesmo distintos: para roubar a bola e iniciar um ataque com uma condução, um passe ou chute; para desarmar, chutando a bola para fora ou sem direção definida; para recepcionar a bola, neste caso, um atacante antecipa o defensor. Em todos os casos, quem antecipa dá à equipe uma vantagem.
Para ocorrer a antecipaçao eficiente deve se observar:
a) antecipar no momento e não antes do passe. Quem é afoito para antecipar pode tomar um passe nas costas. Isto terá uma relação direta com a distância que o marcador está de quem tem a posse de bola;
b) A antecipar utilizando diferentes partes do corpo;
c) A antecipar de ambos os lados.
- Proteção de Bola
Proteger significa manter a posse de bola quando marcado diretamente por um adversário. Porém, não se trata de drible. Quem ensina a proteção de bola deve seguir três passos básicos:
1º passo: a criança deve se posicionar entre a bola e o adversário. Portanto, ela está com o adversário às suas costas. Em assim fazendo, não expõe a bola a investidas do oponente;
2º passo: não basta estar entre a bola e o adversário, é necessário utilizar o corpo contra este último. Isto impedirá que ele execute o desarme;
3º passo: orientar a criança a não perder espaço, isto é, se estiver perto do gol adversário, seja no centro ou na ala, não se distanciar do mesmo; se estiver no ataque, ainda que distante do gol adversário, não retornar com a bola em direção à meia-quadra defensiva;
Dois professores, Frisselli & Mantovani , acenam com uma técnica para proteger a bola. Na opinião destes, quem protege deve antecipar o lado que o oponente quer entrar a fim de realizar o desarme. A oposição deve ser feita com o tronco e o braço.
- Goleiro
Apresentamos aqui as habilidades do goleiro. São elas: pegada, reposição, lançamento, defesas altas, defesas baixas, saídas de gol, jogo de quadra.
Podemos dividir estas habilidades acima em ofensivas e defensivas. As ofensivas sinalizam para ações de ataque: reposição, lançamento, jogo de quadra. As defensivas, evidentemente, tentam impedir o êxito do ataque adversário: a pegada, as defesas altas e baixas e as saídas de gol.
Explicarei cada uma delas. Inicio pelas defensivas.
O que é a pegada? É quando o goleiro faz, com as mãos, uma resistência à bola. Quando a bola vem alta, os polegares do goleiro devem voltar-se para dentro. Quando a bola vem baixa e rasteira, os polegares devem voltar-se para fora. E para bolas vindas na altura do tronco, o goleiro deve fazer o encaixe. Lembre-se de que uma pegada pode iniciar um jogo de contra-ataque. Para isso, bastaria um lançamento ou o ainda o goleiro repondo a bola para fora da área para si mesmo.
O que são defesas altas? As que são realizadas da linha do quadril para cima. Enquanto as defesas baixas são do quadril para baixo. Relevante que estas defesas dependerão, minimamente, de duas variáveis: força e velocidade da bola. Observe:
- para bolas fortes e velozes que vêm na direção do goleiro, sugere-se espalmar. Entretanto, deve-se considerar o posicionamento do adversário. Se a bola vier fora do alcance do goleiro, sugerem-se quedas laterais e saltos. Disse quedas e saltos, não acrobacias.
- para bolas fracas e lentas: sugere-se a pegada.
Nas saídas de gol do goleiro, sugiro considerar dois aspectos:
1º O adversário está sem a posse de bola: fazer a cobertura, isto é, sair do gol com a rapidez necessária para encontrar a bola. Para atender à regra, faze-la sem tocar a bola com as mãos. Quanto mais experiente o goleiro, mais fácil selecionar a melhor ação. Por exemplo: chutar a bola para fora, dominar e passar ou dominar, conduzir e chutar ou passar.
2º O adversário está com bola: fechar o ângulo. A idéia é que o goleiro aumente a sua área corporal, dificultando para o atacante a finalização. Dependerá, evidentemente, de uma boa técnica: pernas flexionadas, tronco projetado à frente e também do tamanho do goleiro. Se o goleiro sair do gol, não ser afoito, aproximar-se para depois tentar o desarme. Isto permitirá, por exemplo, que a defesa se equilibre novamente ou que alguém o cubra.
Quanto às ofensivas, inicio pela reposição. Isso acontece quando, com o uso das mãos, o goleiro coloca a bola em jogo na sua meia-quadra. A reposição deve visar um companheiro bem colocado ou um espaço livre. Deve ser feita com segurança, não expondo a equipe a investidas do adversário.
O lançamento é diferente da reposição apenas num ponto: é feito na meia-quadra de ataque. Com a nova regra do arremesso de meta, onde não é necessário repor a bola na sua meia-quadra defensiva, esta habilidade será ainda mais utilizada.
E, por último, o jogo de quadra. Caracterizado pela utilização das habilidades domínio (recepção), passe, chute e drible (se for na quadra de ataque). Tanto melhor se o goleiro for hábil nas quatro. Entretanto, minimamente, precisa ser bom pelo menos em duas: domínio e passe ou domínio e chute.